Como Alanis Morissette chega ao Lolla? Cantora teve problemas com fama, machismo e 'raiva feminina'

  • 19/03/2025
(Foto: Reprodução)
Aos 50 anos, cantora canadense volta ao Brasil após show em São Paulo em 2023. Relembre entrevista ao g1 e história de álbum que vendeu 33 milhões de cópias. A cantora canadense Alanis Morissette Divulgação Aos 50 anos, Alanis Morissette vai fazer sua estreia no Lollapalooza Brasil, após um show nostálgico no Allianz Parque em 2023. Ela é uma das headliners do sábado (29) de Lolla. No dia seguinte, canta em Curitiba. Alanis tinha 21 anos quando apareceu fazendo pop rock cheio de raiva e peso. Lançado em 1995, "Jagged Little Pill" vendeu mais de 33 milhões de cópias. Era o terceiro álbum dela. A cantora canadense tinha lançado dois álbuns mais dançantes, em uma carreira de popstar infantojuvenil que durou entre 1987 e 1992. Outra informação que surpreende muita gente é a ligação dela com nomes então emergentes do rock. “You oughta know”, primeiro single, tinha o baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers, e o guitarrista Dave Navarro, do Jane’s Addiction. A banda dela nas turnês contava com o baterista Taylor Hawkins, que depois integrou o Foo Fighters e morreu em 2022. Alanis Morissette no clipe de 'Head over Feet', lançado em 1996 e um dos hits de 'Jagged Little Pill' Reprodução Foi a partir dessa fase mais livre e roqueira que Alanis deixou de se "censurar" quando ia escrever letras. "Quando eu era mais nova, com 20 e poucos anos, eu cruzava meus dedos quando ia lançar uma música", contou ela ao g1, pouco depois de lançar "Such Pretty Forks in the Road", seu álbum de pop rock mais recente. "Quando escrevo uma música é como se eu estivesse escrevendo em um diário. Quando eu lanço, as pessoas fazem com que a música seja delas, podem interpretar do jeito que elas quiserem. Então, tecnicamente, elas nem são minhas mais." O embate Alanis x fama Na época de "Jagged Little Pill", ela disse que tinha certo medo de lançar álbuns, porque associava a piora de sua saúde mental à música e à fama. Com o tempo, ela foi desfazendo essa associação. "Meu marido foi bem inspirador", explicou, citando o rapper Mario "Souleye" Treadway, com quem está casada desde 2010 e teve três filhos. "Eu o vejo fazendo música de um jeito que... ele só parece estar empolgado, apaixonado por aquilo. Ele não associa com nada que o intimida. Ele associa escrever canções com se expressar, com felicidade. Eu me inspiro pela forma com a qual ele vê a música... e também fiz muita terapia", complementou, rindo. "Fiz para que a música fosse só esse veículo de expressão barulhento; e as partes da fama e da turnê fossem uma coisa separada." Alanis Morissette, o marido músico Mario Treadway e seus três filhos Reprodução/YouTube da cantora Como é continuar cantando músicas tão intensas por 30 anos nos palcos? "Elas me trazem os mesmos sentimentos de quando eu escrevi. Podem ser sobre medo, devastação, apreensão, arrependimento, o que for. Eu me sinto bem revivendo esses sentimentos no palco." Os arranjos dos shows tentam representar a mesma crueza das versões de estúdio. A maioria das músicas foi gravada em no máximo dois takes e pelo menos duas letras do disco foram escritas em pouco mais de uma hora: "Hand In My Pocket" e "Perfect". Alanis inventou a 'amizade colorida'? Em outra letra, a de "Head over feet", Alanis ajudou a popularizar a expressão "friends with benefits" ("amizade colorida", em tradução livre). Por ser uma gíria, fica difícil afirmar que ela tenha inventado o termo, mas o primeiro uso documentado é o da letra dessa música. Alanis Morissette em 1995 Divulgação O show com esse repertório rodou por festivais e ela dizia que os line-ups costumavam ser "bandas de homens e Alanis Morissette". Para ela, os bastidores dos shows eram "bem patriarcais". "O que eu fui percebendo é que eles não sabiam o que fazer comigo. Eles pensavam: 'Podemos dormir com você? Ou você é a nossa irmã... ou nossa mãe?' Eles não sabiam como curtir comigo, o que era constrangedor e um pouco solitário, mas também meio engraçado." Na segunda metade dos anos 90, Alanis foi a maior cantora do mundo e viveu o lado invasivo da fama. "Eu costumava ser alguém que observa as pessoas, eu ainda sou. Gosto de me sentar em um banco no parque, sabe? E aí, de repente, veio a fama e todo mundo virou os olhos para mim. Não eram mais dois humanos se encontrando. Era algo do tipo: 'ah, eu tenho que conseguir alguma coisa dela'." "Então, isso acabou com minha chance de contemplar. Compreensivelmente, eu passei a me preservar mais. Eu ficava mais olhando para baixo. Eu evitava algumas coisas, evitava certas circunstâncias. Não era a minha parte favorita da fama, mas era uma estratégia de sobrevivência." Por que 'Ironic' não tem ironias? Alanis Morissette no clipe de 'Ironic', do álbum de estreia, de 1995 Divulgação Alanis ainda comentou as ironias de "Ironic". A música é uma das que ela menos gosta, mas se tornou uma das mais ouvidas dela no streaming e a que os brasileiros mais gostam? "Hm... sim", respondeu ela, rindo. "É irônico que não tenha ironias. É irônico que seja a música pela qual sou mais falada." Nos últimos anos, ela tem falado muito sobre a letra, levado com bom humor. Mas como foi ter que responder tanto sobre ela não ter ironias? "Ah, é desagradável ver meu erro analisado todos os dias, todos os anos, por 25 anos... em um caso de malapropismo [uso incorreto de uma palavra]." "Mas quando Glen [Ballard, produtor do álbum] e eu escrevemos... foi a única música que eu e Glen escrevemos a letra juntos. A gente não estava, não estava ligando pra isso. A gente só estava se divertindo. Era tipo uma forma de se testar como compositores juntos. A gente amou a música, mas a letra não significava tanto assim. Depois de 'Ironic', eu passei a escrever todas as músicas eu mesma, todas super pessoais." Alanis Morissette em duas capas da revista 'Rolling Stone': em 1995, quando foi representou a música 'raivosa feminina'; e 2021, dando conselhos para Olivia Rodrigo Reprodução/Rolling Stone Nos tempos de "Jagged Little Pill", Alanis foi chamada de ícone da raiva feminina e alguns críticos usaram esse rótulo de forma pejorativa. Na capa da "Rolling Stone", posou ao lado do rótulo "uma mulher branca com raiva". Embora simplista, ela disse que gosta do adjetivo "raivosa" para definir aquele momento da carreira. "A raiva é tão linda e tem uma reputação tão ruim, porque quando a gente pensa na raiva, a gente pensa no lado destrutivo dela", ela explicou. "A gente pensa em armas, em guerra, em explosões, em brigas, sabe? Mas a raiva em si mesma é, na verdade, uma forma bonita de definir um limite, ou fazer uma mudança, ou ser ativista ou lutar por algo." "A raiva é uma emoção tão linda. E por ser tão apaixonada, eu acho que a gente se assusta com o jeito que ela afeta o nosso corpo. Parece que a gente vai explodir, sabe? Se a gente consegue contê-la e transformar isso em palavra, não há um alívio maior para o corpo e para a alma." Além da música, Alanis tem se dedicado a um podcast. "Conversation with Alanis Morissette" apresenta conversas com professores, autores e outras vozes que representam diferentes filosofias e padrões psicológicos, neurológicos e de desenvolvimento. O foco, segundo ela, é “na cura e na recuperação” das pessoas. Alanis faz questão de se preparar e estudar cada campo de conhecimento de seus entrevistados, com insights sobre pensamentos estabelecidos e descobertas recentes. Para quem gosta de podcasts reflexivos, é imperdível. A última vinda de Alanis ao Brasil Alanis Morissette durante apresentação em São Paulo nesta terça-feira (14) Divulgação/Live Nation/Iris Alves A última vez que a cantora esteve no Brasil foi no maior show solo por aqui desde que surgiu como a maior cantora da história do pop rock dos anos 90. Acostumada a cantar em ginásios no Brasil, ela se apresentou para 49 mil pessoas no Allianz Parque, em São Paulo, em novembro de 2023. Só uma coisa explicava o público recorde da cantora: a nostalgia. O show foi o penúltimo da turnê que celebrava os 25 anos de "Jagged Little Pill" e teve várias apresentações adiadas devido à pandemia. Em sua única parada na América do Sul, ela mostrou que segue em forma. A voz continua excelente e o jeito de se apresentar não mudou muito. Ela anda de um lado para o outro do palco mais de 10 vezes só na primeira música, "All I Really Want". Essa caminhada incessante balançando o cabelo e o resto do corpo sempre foi parte da performance, assim como o olhar perdido e o jeito contido. Sem falação no palco O show não tem muita falação ou produção elaborada: a cantora vai direto ao ponto. Ela toca gaita e violão, acompanhada por um discreto quinteto formado por dois guitarristas, baixista, baterista e tecladista. Nenhum deles a ajuda nos vocais de apoio. Cabe ao público essa missão. Derretendo de calor, mesmo com a temperatura até que amena de 24 graus, Alanis entrou com um sobretudo de paetê preto. Ela tirou a peça já na segunda música, "Hand in my pocket". A partir daí, passou o show todo com uma calça de couro e uma camisa preta com pinta de gasta e a palavra "família" estampada em uma fonte quase indecifrável. Alanis Morissette levou quase 50 mil fãs ao Allianz Parque, em São Paulo, em 2023 Divulgação/Live Nation/Iris Alves Alanis botou o microfone no pedestal em "You learn" e parou de andar um pouco, expediente repetido em outras músicas do setlist. Todas as 13 faixas do álbum homenageado foram lembradas. É impressionante a força ao vivo e a boa recepção inclusive de lados b, como "Perfect". A mais cantada foi "Ironic", ironicamente a música que da qual ela menos gosta. Alanis virou o microfone para a plateia e deixou os fãs cantarem pelo menos metade da música. O show teve ainda quatro faixas do disco mais recente de pop rock, "Such Pretty Forks in the Road", de 2020. "Uninvited", "Numb" e "Thank U", a última, completam o set. "Hands clean", a mais conhecida do álbum "Under Rug Swept" (2002), foi a ausência mais sentida. De resto, o show não escondeu quem Alanis é: uma popstar tímida e que não parece se sentir muito confortável no comando de um show para quase 50 mil fãs. Os dois maiores recados da noite não foram ditos por ela, apenas apareceram no telão: uma homenagem para Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters que fez parte da banda dela e morreu em 2022, aos 50 anos; e um "Thank you, São Paulo". Quem foi ao show também agradeceu Alanis, uma popstar diferente das outras. VÍDEO: Relembre Alanis Morissette no Festival de Verão A canadense Alanis Morissette se apresentou em 2009 no Festival de Verão

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2025/03/19/como-alanis-morissette-chega-ao-lolla-cantora-teve-problemas-com-fama-machismo-e-raiva-feminina.ghtml


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